quarta-feira, 16 de junho de 2010

o artista da fome


O numeroso e diverso acervo de máscaras e outros objectos criados ao longo de mais de dez anos foram reunidos pela primeira vez em Dezembro de 2008 na instalação teatral "700 Máscaras à Procura de um Rosto ou um Artista da Fome", 46ª produção da companhia A Escola da Noite — Grupo de Teatro de Coimbra, de que António Jorge é elemento fundador e onde trabalhou como actor, cenógrafo, aderecista e encenador entre 1992 e 2010.

O espectador era convidado a visitar os interstícios do Teatro da Cerca de São Bernardo (os espaços habitualmente ocultos à sua vista, reservados aos artistas e funcionários: o escritório, a lavandaria, a casa das máquinas, o sub-palco, os camarins…), conduzido por um velho guarda de poucas palavras, envolvidos num ambiente sonoro que sublinhava o vazio do espaço, habitado por máquinas e mobílias sem uso. Por sobre o ruído desse abandono ouvia-se, contudo, a voz do "artista da fome" — brilhante reflexão de Franz Kafka sobre a condição do artista dita pacientemente pelo actor/artesão que, amalgamado ao próprio espaço físico que se recusava a abandonar (meio corpo no sub-palco, confundido na palha que o envolvia, tronco e cabeça a assomar na quartelada aberta para a sala de espectáculos), resistia ao tempo e ao esquecimento, último actor e espectador de um teatro abandonado.
O público acabava por desembocar, entrando pelos "fundos", no grande palco onde uma imensidão excessiva de rostos expectantes e objectos insólitos o aguardava.

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